Monday, June 28, 2010

Transporte alternativo





















Pelo norte e pelo leste eis um transporte alternativo muito usado.

E eu a caminho de uma reunião de mulheres em Farim – norte de Bissau. Os meus pés já doíam e o calor era imenso….

Alargando o ouvir











E a electricidade foi-se. Esta imprevisibilidade não deixa planificar ou organizar seja o que for. Ainda tento continuar a trabalhar no computador e o suor vem, escorrega e, cai no teclado. Limpo o rosto com a toalha que está na cadeira mas o sal do suor faz-me arder os olhos e, desisto.

Procuro na casa o entrar e o passar da leva brisa de fora. Fico no entre janelas e ali me instalo com o meu computador, sem o menor movimento.

Olho para as folhas do mangueiro que se movimentam preguiçosamente e alargo o meu ouvir aos sons que entram por mim adentro.

Trok.. trok… são os camiões que fazem este caminho do porto até a algum lugar. É a campanha do caju que muda temporariamente os sons deste país;

Num carro parado ouço o rádio. Está muito alto. Há uma notícia sobre o mundial de futebol… qualquer coisa sobre Mandela;

Há vozes altas na rua. Alguém discutindo… naquele tom agressivo que não deixa espaço para o apaziguamento;

Ouvindo a troca de saudações, aquelas longas saudações daqui… Como está o corpo? Como está a família? Como estão os meninos? Como está a casa? – interminável mas, uma feliz pausa, na sombra, no lento andar debaixo deste sol abrasador.

Gargalhadas de crianças. Talvez daquelas meninas de sorriso iluminado que vendem todo o dia e pela noite dentro, um pratinho de amendoins.

Pum… pum… é a faca ou cutelo a cortar a carne de porco que há pouco chegou ao restaurante. O som é arrepiante.

Chega-me um som cristalino, suave. Vou à janela e eis a água a sair do cano, debaixo das raízes do mangueiro. Finalmente água. Há 3 dias que não havia água. E eu, tentando economizar a água que tinha, usando duas ou três canecas de água para tomar banho. As empregadas do hotel iam buscar água a um lugar longe. Chegavam, de manhã, com o corpo cansado e suado.

A bateria do meu computador já está fraquita. Continuo neste entre janelas, esperando que chegue a electricidade...

O que não tem remédio, remediado está











A noite está sobre Quinhamel. Uma lua que eu nunca sei se é cheia ou nova toca o rio fazendo uma estrada de luz.

Há o coaxar dos sapos. Pássaros da noite, tornando-a de dia - movimento e som. Uma coruja com os seus grandes olhos fixou-se em mim, quieta como se lá não estivesse. As árvores, erguendo-se majestosas e espelhando-se no rio, testemunhas centenárias de todo este movimento e som nocturno. Não há nenhum som que da natureza não seja.

Pego num balde com água e vou por entre as árvores e lavo-me e a água que pelo meu corpo passa vai para a terra, alimentando-a. Brincando com a água nas minhas mãos rego as árvores. Brinco e rio-me, do que a natureza estará pensando de mim.

Vou até ao rio para me sentir nesta simbiose perfeita. Saúdo o deus do rio.

A noite tem sobre mim este mistério de protecção.

O carro há-de chegar para nos levar a Bissau. Passam e passam as horas. Neste longo entretanto vamos conversando pela noite adentro, eu e a Arasi. As crianças estão dormindo, cansadas de tanto brincar durante todo o dia.

Noite já alta, chega o carro.

De carro tem apenas quatro rodas, um motor e uma chapa bem velha.

Bateria está mal, temos que o colocar numa descida para apanhar balanço. Os máximos são os mínimos pela estrada dentro. O tablier completamente às escuras. Os amortecedores são ferros sobre ferro. A direcção guina para a esquerda e travão de mão, não há, já não falando da ausência do cinto de segurança. Cinquenta quilómetros à nossa frente.

O carro vai andando, cortando a noite, passando pelo “chão” de Papel (território do grupo étnico Papel). As grandes árvores vão deslizando pelos meus olhos e o mato profundo, bem além. As crianças acordaram e todos vamos de olhos bem abertos, sentindo o vento quente nos rostos.

Todo o mistério do chão de Papel acompanha-nos nesta viagem pela noite. Sinto-me bem, apesar dos receios sem motivo de toda a força deste “chão”. Aspiro o ar, olho a luz viajando connosco e assim vamos absorvendo quilómetro a quilómetro, lentamente porque luzes quase não temos.

E porque o que não tem remédio, remediado está este velho carro já cansado da vida e respeitando-o na sua velhice mas curvando-me à generosidade de conseguir dar-nos ainda uma viagem, mesmo atribulada – as minhas mãos iam dando-lhe força para mais um quilómetro a vencer.

E assim cheguei à minha casa, tarde ou de manhã. Cheguei tarde de noite? Ou de manhã muito cedo?

Friday, June 25, 2010

A generosidade dos que menos têm












Precisava de comprar uma resma de papel e assim saí a caminho do supermercado. Normalmente compro as coisas em frente ao hotel, numa pequena loja dos mauritanos – mais conhecidos pelos “narres”. Perguntando a razão deste nome, alguém me explicou que a palavra “narre” significa fogo e que em tempos idos os mauritanos, a cavalo, ao invadir o norte da Guiné, incendiavam as casas mandando tochas de fogo. Será verdade? Não sei. História contada.

Bem, e aí fui andando para o supermercado. Calor intenso com uma humidade pegajosa.

Ao chegar, alguém chamou o meu nome – era uma jovem mulher que me conhecia, vendedora de fruta, a quem sempre comprava belíssimos mangos e papaias. Há 7 anos atrás era menina, tinha 12 ou 13 anos. Perguntou-me por onde tenho andado, porque há muito tempo que não me via. Tinham passado anos. Disse-lhe que tinha estado em Portugal e que agora estava aqui por alguns meses. Queres fruta? – perguntou-me ela. Não minha querida, estou no hotel. Não preciso. – respondi eu.

Apesar da minha negativa o sorriso dela iluminou o seu rosto. Rosto bonito.

Está grávida. Uma barriga bonita. Tem agora 20 anos e espera vir a ter uma menina.

Entrei, comprei a resma e saí. Ela estava à porta à minha espera com um saco de plástico e deu-mo. Abri. Era fruta. Queria recusar porque era o seu ganha-pão. Ela insistiu, dizendo que era um presente para mim. Aceitei. Abri o saco. Eram bananas, uma papaia e 4 mangos. Fiquei emocionada. Dei-lhe um beijo e agradeci.

Subi a rua a caminho de casa e os meus olhos estavam embaciados.

A generosidade dos que menos têm – o prazer de oferecer, a partilha, a saudade, a ternura!

Fatumata Djaló, quisera eu poder dar-te um mundo melhor.

Saturday, June 19, 2010

Os Djugudés









Os meus companheiros de todos os dias. Abro a janela – e lá estão, pacientes como se todo o sentido da vida passasse por eles.

Têm um caminhar estranho, vacilante. Parece que a terra não lhes pertence e é no ar que mostram toda a sua magnificência. Abrem as suas asas negras ao vento, mesmo à mais pequena brisa e, são donos do mundo.

Com o calor ficam quietos, bem quietinhos, procurando a mais pequena sombra.

Em frente à minha janela, no outro lado da rua, há uma lixeira. Lugar deles partilhado pelos cães e pelo gatos da rua.

Lixeira de restos do restaurante, e eu pensando porque não colocam o lixo no contentor, bem perto que está? Dizem que o contentor está cheio de lixo. Será?

Na verdade é esta lixeira que dá de comer aos djugudés, aos cães e aos gatos. Bendita sejas!

E há uma hierarquia, para mim incompreensível, entre estes diferentes bichos: ora comem uns, ora comem outros – e quando não estão a comer, esperam pacientemente a sua vez. Por vezes se juntam – outras vezes não.

Às vezes aproximo-me deles e afastam-se. Confiança em humanos, não têm. Por vezes eu também não!

E lá estão… sentados no esqueleto de uma construção inacabada. Olham para a minha janela, volteando os pescoços sem penas. Imagino que me observam, curiosos.

E eu continuo tricotando palavras e sonhos no meu teclado…

A morte


Por aqui tenho andado, umas vezes ficando, outras passando.

E sempre esta perplexidade do valor da vida.

Será que a vida tem valores diferentes em culturas diferentes? E a morte? Também assim o será?

A minha alma vai doendo quando vejo uma criança ou outra pessoa a morrer sem razão aparente – injustificada, até.

Faltou o dinheiro para os medicamentos, para o transporte para o hospital, para o tratamento. Quantas vezes dinheiro mínimo – o equivalente a uma grade de cervejas. E o desespero toma conta das pessoas e depois…. vem a aceitação do inevitável, evitável!

E transporta-se aquele ser, que já era, numa carrinha de caixa aberta, coberto com algum pano da família – e assim vai, calcorreando os buracos da cidade que já não o magoam. Se os olhos estivessem abertos de ver, veriam as folhas dos mangueiros a deslizar e a luz do sol passando e acariciando o pano. Mas já nada importa. Apenas e só aquela viagem de não retorno.

E depois vem o "tchoro" (funeral) e aí a festa se faz. Aparecem os animais que vão ser sacrificados, para honrar os mortos e para deleite de toda a comunidade, por vezes aparece álcool e são centenas e centenas de pessoas que vêm homenagear o falecido. Ouvem-se os tambores e dança-se.

A tristeza casa com a alegria. Casamento estranho esse.

Olho para os pobres animais. Que olhares tristes. Estão sentenciados de morte. Tentam não avançar – eles sabem o que os espera. E assim… caminhando forçados lá vão as vacas, as cabras, as galinhas – bem querendo fugir à faca que os espera. Desvio o meu olhar.

O meu luto fica mais carregado.


Sunday, June 13, 2010

Procura-se o senhor morto



No Jornal Nô Pintcha do dia 10 de Junho (afinal o dia da minha nacionalidade, dizem) vinha o seguinte Aviso:

"Por se encontrarem em parte incerta, no âmbito do processo disciplinar e em cumprimento do número 3 do artigo 58º da Lei 9/97, se avisa de que se encontram pendentes no Gabinete de Apoio e Contencioso do Ministério da Educação Nacional, Cultura, Ciência, Juventude e Desportos, os processos disciplinares contra os senhores MALI BALDÉ e MORTO BAEM SANHO, professores do Ensino Básico Unificado e do Ensino Secundário, colocados na Região de Bafatá e Liceu Nacional Kwame N'Krumh, respectivamente, e o prazo fixado para apresentação da sua defesa é de 30 dias, a contar da data da publicação do presente aviso.
Bissau, 02 Junho de 2010
O Director
Flaviano B. Ferreira"

Se alguém vir o senhor Morto - digam-lhe para se apresentar - só tem 30 dias....!

Stop mutilação genital feminina na Guiné-Bissau









Fim à mutilação genital feminina

Projecto DJINOPI - Djintis Nô Pintcha (2010-2012)


1 – Introdução

Não existe uma estatística confiável sobre a mutilação genital feminina na Guiné-Bissau. A UNICEF estima actualmente uma prevalência de aproximadamente 45% de mulheres entre 7 e 12 anos (39% na capital, 48% no campo). Assim, estima-se hoje 300.000 mulheres afectadas, com outras cerca de 80.000 meninas, de praticamente todas as idades, em perigo de serem mutiladas. Variadas formas de amputação do clítoris são praticadas, principalmente em comunidades islâmicas, mas também por pequenos grupos animistas, . As comunidades com esta prática vivem sobretudo no Leste (regiões de Bafatá e Gabú), no Norte (Oio e Cacheu) e no Sul (Quínara, Tombali e Bolama-Bijagós) do país. Entre os fulas ou fulanis, que representam cerca de 30% da população, a MGF é praticada no marco de uma cerimónia curta (fanadozinho), em geral em meninas entre 7 e 12 anos. Entre os Mandingos (outros 30% da população) e pequenos grupos da etnia Susu e Nalu são atingidas meninas da mesma faixa etária. Na etnia Beafada pratica-se a clitoridectomia (estirpação do clítoris) em crianças de 9 a 12 anos.

Todos os grupos, menos os fulas, realizam as operações em longas cerimónias com uma até seis semanas de duração, que incluem rituais com danças e cantos, além de instruções práticas e morais sobre o papel da mulher adulta nas respectivas sociedades (fanado grande). Neste contexto, não raro meninas recém entradas na puberdade são casadas. Entre a população urbana com boa educação formal a MGF tem tendência a ser menos praticada, mas de nenhum modo é incomum. Para pais e mães com uma postura crítica com relação ao tema é bastante difícil impor-se entre os partidários da prática no círculo familiar, sobretudo as avós. As etnias que não praticam nenhuma forma de MGF, são as etnias animistas, o que envolve o risco de interpretações étnicas de acções contra a MGF. Em 1995 o parlamento recusou um projecto de lei contra a MGF. Tem ocorrido um intenso debate público em torno de uma possível lei contra a MGF, no qual o presidente da Comissão Nacional Islâmica pôs-se a favor da prática e o presidente da Liga Guineense dos Direitos Humanos, contra a prática, verificando-se assim um tema fracturante na sociedade guineense.

2 – Grupos Alvos do Djinopi:

O grupo de meninas - estimado em torno de 80.000 - que ainda não sofreu a MGF, mas devido ao seu meio cultural está directamente em risco. Dessas, cerca de 40.000 meninas vivem nas três regiões principais Gabú, Bafatá e Quínara. Os critérios de selecção destas zonas foram, por um lado, devido à dimensão do problema (em Gabú e Bafatá vive o maior grupo em risco), por outro lado a representatividade étnico-cultural dos grupos alvo.

Outros grupos alvos, com os quais o projecto irá trabalhar de forma diferente, são os pais e outros membros importantes da família, excisadoras (fanatecas), autoridades religiosas, homens jovens em idade de casar, homens adultos e velhos como formadores de opinião e autoridades tradicionais. Em cada um desses grupos encontram-se apoiadores, mas também cépticos e adversários da prática da MGF. Finalmente também serão envolvidos multiplicadores como profissionais da saúde pública, professores de escola primária, políticos, funcionários de ministérios, ONGs, programas de desenvolvimento bem como jornalistas de jornais, rádios e TVs.

Thursday, June 10, 2010

Nhala - a minha tabanca


No caminho para o sul e quilómetros e quilómetros percorridos a minha alma vai ficando grande. Estou próxima de Nhala, a minha aldeia adoptada por mim há 30 anos. É uma aldeia que fica no fundo do cruzamento. Viramos à direita até acabar o caminho – e lá está ela. De um lado a aldeia, do outro a antiga escola onde trabalhei e vivi 2 anos e à entrada aquele velho mangueiro que bem me conhece e lá no fundo do mato, a descer, a minha fonte.

Os quilómetros vão passando e a emoção vai crescendo dentro de mim. Um reencontro de tantos anos, de tanta coisa passada, de vidas que já não são, de memórias, de lágrimas e de uma imensa alegria.

Chego. E para meu espanto a aldeia tinha-se alargado para a estrada. E agora há uma Nhala de Baixo e uma Nhala de Cima. Muitas casas novas, escola, mesquita… e as pessoas, esperando-me – não me reconhecendo. Com tantos anos passados, os mais velhos da altura, já poucos estarão vivos. As crianças tornaram-se adultas e eu de volta.

Começa a reunião com a população – e eu sentada tentando reconhecer em cada rosto um rosto antigo – mas a memória falha-me, apenas fica dentro de mim rostos de meninas que comigo partilharam a minha vida 2 anos.

Explicou-se à comunidade a razão do projecto e foi dito que eu tinha escolhido aquela aldeia porque a considerava minha – houve um ligeiro movimento de espanto que percorreu as pessoas e no meio uma mulher perguntou “És a Ana Paula” – Sou. – Respondi. Tinha-me esquecido que as pessoas daqui assim me tratavam. E os sorrisos alargaram-se num espanto temporal. “Brinquei na tua cama”. – disse outra mulher – que naquele tempo atrás era uma das meninas. A minha emoção cedeu e as lágrimas saíram em liberdade. Era a Maimuna. Embaraçada com os meus olhos embaciados tentei recuar um pouco mas as mulheres rodearam-me, tocando-me, abraçando-me – talvez tentando fazer sentido da minha pessoa de há 30 anos atrás. Para eles eu teria que já ser uma mulher velha de cabelos brancos – e não era o caso. Perguntarão para si próprios – “mas estes brancos não envelhecem como nós?”

Nestes 30 anos não tive 10 filhos, não tive que trabalhar no campo, não tive que andar horas e horas debaixo do sol a acartar água, não tive que inventar maneiras de alimentar a minha família – e tantas outras coisas que nos diferenciam – apesar de mulheres que somos nós.

Acabou a reunião. O carro arrancou e olhei para a estrada do cruzamento – para a minha Nhala de Baixo. Voltarei num destes dias para te saudar, para abraçar o velho mangueiro e visitar a minha fonte.

Até um destes dias.

Lavagem de carros



Fico perplexa com a preocupação das lavagens de carros.

Pela cidade há equipas de homens jovens que se especializam nesta tarefa – e é um ver de rigor neste processo. Lavam por fora, lavam por dentro, limpam os tapetes, puxam lustre, lavam as jantes e, para espanto meu, até lavam os pneus. Tudo fica brilhando debaixo deste forte sol.

A equipa perto da minha janela aproveitou um cano público de água, bem junto às raízes do mangueiro, onde a recolhem para as lavagens. Às vezes há alguns conflitos na propriedade do cano. Não entendo muito bem mas deve haver regras entre a equipa para a recolha e quando as regras não são cumpridas há problemas.

E por aqui param os mais variados carros, táxis, privados e outros de alta cilindrada e ainda outros de organizações internacionais. É uma azáfama… mas ao sábado e domingo há pouco trabalho para a equipa. Segunda será um bom dia de trabalho. Os carros saíram todos para o fim de semana e estarão cheios de poeira na segunda seguinte.

Quase que me sinto envergonhada do meu carro. Eu que espero que venha o Inverno para o carro se lavar. Poucas vezes o lavo e os pneus, nem ver….

Espero que o meu carro nunca saiba sobre o tratamento dos carros aqui. Até poderá fazer greve e sentir-se mal tratado um com a auto-estima em baixo. Quando chegar a Portugal vou lavar o carro – mas as jantes não! Há um qb para tudo na vida.

A humidade de Bissau ou a entrada das chuvas


É que aqui as chuvas têm uma entrada, um ficar e uma saída.

E a entrada faz-se difícil – como um processo de sedução. Um piscar de olhos, um rebolar de ancas, um trejeito de ombros. Entra não entra…e nós esperando que a chuva se faça à terra.

Desde 2ª que o calor vai subindo em Bissau. Não tenho a menor ideia de quantos graus – mas para mim está batendo os quase 40º. Quando possível pego na caneca e mando água pelo meu corpo – nem me enxaguo. Assim fico com o prazer da água, por pouco tempo mas mesmo assim são uns minutos bem curtos e bem bons – e depois lá vem a vaga de calor e humidade.

Este puxar de chuva mas chuva não vem, cola-se aos corpos. A humidade é um peso. Podemos pesar a humidade? Eu sinto-a nos meus olhos e nesta dificuldade em andar rápido. Pois é – qualquer movimento mais rápido e lá vem a transpiração. Uma verdadeira sauna – grátis. Nem a ventoinha nos salva desta humidade. As pás lá se mexem em velocidade mas o ar que agita é quente.

Nem uma brisa, nem um movimento subtil das folhas do mangueiro em frente à minha janela. Está tudo à espera que a chuva rebente, forte, impetuosa e sem amarras.

Nestes meus dias de transpiração contínua, espero ansiosamente pelas 10 ou 11 da noite para sentir o ar condicionado do meu quarto – e assim dormir tranquila sem o rebolar do corpo no colchão procurando a parte seca de transpiração.

Porque é que não há mais 23 horas durante o dia?