Tuesday, January 18, 2011

Para ti Maimuna - For you Maimuna



Para ti Maimuna,

Vinte anos atrás te vi, pequenina, olhos grandes donos do mundo.

Passaste à minha porta de corpo coberto com um pano. Olhaste de esguelha para mim. Ias para o fanado (excisão) e eu, impotente com a raiva contida na minha alma.

Dentro da minha casa gritei para as paredes a injustiça, a crueldade, a maldade do que te iam fazer.

Dois meses depois voltei a ver-te na fonte.

Corpo pequenino coberto com o pano e sem puderes olhar para mim. Os teus olhitos fugiram do pano e encontraram os meus. Olhos tristes e de dor.

Naquele momento não eras dona do mundo.

Voltei a ver-te, já mulher, vinte anos depois.

Os mesmos olhos grandes. Duas crianças estavam penduradas em ti e os teus olhos encheram-se de lágrimas, mais uma vez, mas de alegria, da retoma do passado, do contar histórias na minha casa, das bolachas comidas, dos lápis de cor e de tantas outras coisas...

Que as tuas meninas não passem por aquilo que tu passaste!

Paula da Costa

Região Quínara, Guiné-Bissau - 2000

For you, Maimuna


20 years ago I would see you, a little girl with large eyes that owned the world.

Then you passed my door, quickly glancing my way, a cloth on your bowed head. Being taken for excision while I can only look on, my soul filled with an impotent rage.

Inside my house, I yell to the walls of the injustice, the cruelty and the harm they will inflict.

2 months later I see you by the well. Small body wrapped in a cloth, eyes cast down. They dart up and meet mine. Sad pained eyes, no owners of the world.

20 years pass before I see you again, a woman, the same large eyes, two toddlers clinging. Eyes that fill with tears once more, with joy as we recall the past of telling stories in my house, of biscuits and coloured pencils and so many other things …


Maimuna, may your daughters never endure that which you could not avoid!

(tradução Bill Williams)


No comments:

Post a Comment