Saturday, June 19, 2010

A morte


Por aqui tenho andado, umas vezes ficando, outras passando.

E sempre esta perplexidade do valor da vida.

Será que a vida tem valores diferentes em culturas diferentes? E a morte? Também assim o será?

A minha alma vai doendo quando vejo uma criança ou outra pessoa a morrer sem razão aparente – injustificada, até.

Faltou o dinheiro para os medicamentos, para o transporte para o hospital, para o tratamento. Quantas vezes dinheiro mínimo – o equivalente a uma grade de cervejas. E o desespero toma conta das pessoas e depois…. vem a aceitação do inevitável, evitável!

E transporta-se aquele ser, que já era, numa carrinha de caixa aberta, coberto com algum pano da família – e assim vai, calcorreando os buracos da cidade que já não o magoam. Se os olhos estivessem abertos de ver, veriam as folhas dos mangueiros a deslizar e a luz do sol passando e acariciando o pano. Mas já nada importa. Apenas e só aquela viagem de não retorno.

E depois vem o "tchoro" (funeral) e aí a festa se faz. Aparecem os animais que vão ser sacrificados, para honrar os mortos e para deleite de toda a comunidade, por vezes aparece álcool e são centenas e centenas de pessoas que vêm homenagear o falecido. Ouvem-se os tambores e dança-se.

A tristeza casa com a alegria. Casamento estranho esse.

Olho para os pobres animais. Que olhares tristes. Estão sentenciados de morte. Tentam não avançar – eles sabem o que os espera. E assim… caminhando forçados lá vão as vacas, as cabras, as galinhas – bem querendo fugir à faca que os espera. Desvio o meu olhar.

O meu luto fica mais carregado.


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