Friday, June 25, 2010

A generosidade dos que menos têm












Precisava de comprar uma resma de papel e assim saí a caminho do supermercado. Normalmente compro as coisas em frente ao hotel, numa pequena loja dos mauritanos – mais conhecidos pelos “narres”. Perguntando a razão deste nome, alguém me explicou que a palavra “narre” significa fogo e que em tempos idos os mauritanos, a cavalo, ao invadir o norte da Guiné, incendiavam as casas mandando tochas de fogo. Será verdade? Não sei. História contada.

Bem, e aí fui andando para o supermercado. Calor intenso com uma humidade pegajosa.

Ao chegar, alguém chamou o meu nome – era uma jovem mulher que me conhecia, vendedora de fruta, a quem sempre comprava belíssimos mangos e papaias. Há 7 anos atrás era menina, tinha 12 ou 13 anos. Perguntou-me por onde tenho andado, porque há muito tempo que não me via. Tinham passado anos. Disse-lhe que tinha estado em Portugal e que agora estava aqui por alguns meses. Queres fruta? – perguntou-me ela. Não minha querida, estou no hotel. Não preciso. – respondi eu.

Apesar da minha negativa o sorriso dela iluminou o seu rosto. Rosto bonito.

Está grávida. Uma barriga bonita. Tem agora 20 anos e espera vir a ter uma menina.

Entrei, comprei a resma e saí. Ela estava à porta à minha espera com um saco de plástico e deu-mo. Abri. Era fruta. Queria recusar porque era o seu ganha-pão. Ela insistiu, dizendo que era um presente para mim. Aceitei. Abri o saco. Eram bananas, uma papaia e 4 mangos. Fiquei emocionada. Dei-lhe um beijo e agradeci.

Subi a rua a caminho de casa e os meus olhos estavam embaciados.

A generosidade dos que menos têm – o prazer de oferecer, a partilha, a saudade, a ternura!

Fatumata Djaló, quisera eu poder dar-te um mundo melhor.

1 comment:

  1. Tive uma aluna chamada Fatumata, mas não pode ser a mesma!

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